Raid Festival Brasil off-Road 2001

Raid_festival01_30.JPG (180328 bytes) Raid_festival01_32.JPG (116106 bytes)
Raid_festival01_33.JPG (114655 bytes) Raid_festival01_34.JPG (128809 bytes)
Raid_festival01_37.JPG (111931 bytes)  
Raid_festival01_40.JPG (82220 bytes) Raid_festival01_42.JPG (109569 bytes)
Raid_festival01_43.JPG (90125 bytes) Raid_festival01_44.JPG (116055 bytes)
Raid_festival01_45.JPG (127234 bytes) Raid_festival01_48.JPG (93170 bytes)
Raid_festival01_50.JPG (70463 bytes) Raid_festival01_52.JPG (66853 bytes)

Relato do Décio Pedroso:

 

Meninos, eu vi!

A semana toda choveu em São Paulo, como só nas vésperas de um raid costuma chover.
No estacionamento de onde largaríamos, os carros mal conseguiam estacionar corretamente, tamanha era a camada de barro que grudava nos pneus, transformando em slick, até o mais agressivo dos Frontiera.

Aliás, capítulo a parte, a única correta intervenção da organização nesse raid foi impedir o uso dos pneus agrícolas na competição. Os que porventura não acharam que esse ítem do regulamento seria levado a sério, foram convidados a largar lá no fim do comboio, para não prejudicar quem vinha com os pneus regulamentados. Bom, isso foi tudo que a organização fez.

Recebemos o número 2 de porta e o número 1 não compareceu. Largamos liderando o comboio. Sem marcas na trilha, nossa navegação teria que ser perfeita!
A planilha estava bem feita, com passagens interessantes e bem escolhidas. No entanto, o mais velho dos recursos para garantir adrenalina foi aplicado: médias altas.

Com o terreno se desfazendo sob nossos pneus, éramos obrigados a trafegar em baixadas de morros à até 30 Km/h, litaralmente voando nas curvas de nível, e passando por erosões sem dar tempo à suspensão de trabalhar. A Band ia bem mas começava a reclamar dos esforços extras. Os BF 33 começavam a raspar mais insistentemente nos pára-lamas, indicando que as molas terão que ser revistas esta semana...Pior para o seu Carlos, que cometeu a insanidade de nos patrocinar...

Qualquer exitação diante de um cruzamento, e lá se iam 15, 20 preciosos segundos que somente a duras penas conseguíamos recuperar. Dávamos graças a Deus por estar no início do comboio, pois lá atrás, a coisa devia estar feia!

Ao chegar no neutral do almoço, encontramos com o Parmesão, q colocou-nos a par de suas dificuldades. Seu guincho tinha surtado e trabalhado por vontade própria. Algo aconteceu na caixa de solenóides e o guincho começou a engolir a si próprio. Quando o motor não conseguia mais girar, a corrente exigida torrou o cabo de alimentação, colapsando toda a parte elétrica do Engesão dos Vernizzi.

O estrago só não foi pior pois o Fábio tinha uma chave geral que ele desligou. Essa chave, porém, ficava do lado interno do capô do motor, o que fazia com que ficasse geralmente ligada. Na Band Assassina, onde também tinha guincho elétrico Work, a chave geral ficava na frente, ao lado do guincho e eu a mantinha SEMPRE desligada. Recomendo isso a todos os usuários de guinchos elétricos, Work ou não.

Com essa brincadeira toda, ele também perdeu seus pontinhos, mas seguia firme na prova.

Fim do neutral, largamos para a segunda metade. Íamos no mesmo ritmo da 1a parte, nem melhor nem pior. Então nos deparmaos com uma subida forte em curva, bem judiada por uma erosão que a cortava.
Primeiro ataque, os BF patinaram, uma roda dentro da erosão, faltou-nos tração para superar o obstáculo.
Segunda tentativa, o mesmo aconteceu.
Na terceira vez, ainda sem sucesso, e já estressado com o tempo crescendo no Totem, ao voltar de ré, deixei a traseira escorregar para fora da trilha. Como o carro não ia mais para frente, era necessário voltar ainda um pouco mais. Tendo mal avaliado o desnível do terreno, ao voltar, a Band se inclinou de tal forma, q quase se vai. Parei imediatamente. Não conseguíamos nem respirar dentro do carro.
Do alto do meu posto, eu olhava para a direita e via o Maurício já muito abaixo de mim, e o chão, por sua janela, num ângulo que jamais havia observado de dentro de um veículo de quatro rodas.
O Maurício decidiu sair, mas fiquei com medo que a Band rolasse por cima dele.
Ele abriu sua porta com todo o cuidado, sem provocar nenhum grande desequilíbrio no carro. Soltou seu cinto, desembaraçou-se do capacete e graciosamente, como uma bailarina espanhola grávida de um rinoceronte, saltou para fora, rapidamente ficando fora do alcance das 2,5 ton de pura Band.
Ele deu a volta no carro e começou a sinalizar para os outros competidores para sentar o pé na subida.
Depois que todos da Graduados passaram, ele subiu no estribo esquerdo, fazendo contra-peso para que eu pudesse sair.
A situação da Band era lamentável. Era incompreensível que ela não tombasse de uma vez. Daria para ficar em pé sobre a lateral de seu pneu traseiro. Tinha a mão de Alguém ali, impedindo que ela se fosse.
Discutimos muito em como melhor fazer o seu resgate. Chegamos à conclusão de que o melhor seria prender uma cinta no bagageiro para garantir sua estabilidade, atravessando-a na trilha e ancorando-a em uma árvore do outro lado. Naturalmente, teríamos que esperar os outros competidores passarem para não prejudicar ninguém.
Depois disso, passa um jipe da organização, que pergunta se estávamos bem. Como a situação estava estabilizada, eles passaram um rádio alertando os demais e disseram que "iam ali e já voltavam". Bom, desnecessário dizer que estamos esperando por eles até agora...
Esticamos a faixa de reboque conforme planejado, e prendemos o guincho a uma árvore bem a frente da Band, que estava paralela à trilha, mas toda jogada para o lado direito. Ao movimentar a alavanca do guincho, o Maurício viu o pneu esquerdo traseiro da Band quase desgrudar do chão.
Entrei na Band pela clarabóia que havia se transformado a porta do motorista, coloquei o capacete e, sem cinto, pois ele ficou travado na posição de recolhido, acionei o guincho.
Tive o cuidado de não tracionar, para evitar que os pneus patinando cavassem o chão e desestabilizassem sua precária condição. Senti a faixa retesar-se, mas o logo o eixo dianteiro alcançou um terreno mais nivelado e a Band voltou a firmar. Ainda estávamos fora da trilha, mas a iminência de capotamento parecia estar afastada.
Mudamos o guincho de posição, atravessando o cabo em 45o com a trilha para embicar a Band no rumo certo. A faixa no bagageiro, servindo como o raio de uma curva, também ajudou a retomada da direção correta.
Foi então que algo se mexeu. A árvore onde havíamos prendido o guincho estava agora bem de frente para a Band e inclinou-se em sua direção. Não era mais grossa do que um braço, mas suficiente para um bom estrago, se viesse direto. E ela veio.
E eu que sou um atleta, rapidamente mandei o heroísmo pras P...s e me escondi sob o painel da Band. nenhum lugar mais confortável, naquel momento.
Mas mais uma vez, no meio de tanto azar, demos sorte. Quando a árvore vinha certa para amaçar-me a capota, enroscou em alguma coisa lá em cima e parou. Seu tronco, a uns trinta graus com o chão, ainda ameaçava.
Esperamos um pouco e o inevitável aconteceu: o galho lá em ciam se partiu e ela acabou de cair. Por sorte desviou-se em sua trajetória, caindo sobre a cinta extendida na trilha. A Band balançou, mas permaneceu firme, ainda menos inclinada que antes.
Rapidamente o Maurício mudou o guincho de árvore e demos sequência à operação.
Bom, daí, o impensável aconteceu: com o aumento da carga sobre a cinta, a primeira árvore onde a cinta estava amarrada também veio a baixo, caindo em cruz sobre a primeira e quase acertando o capô da Band, parando no cabo de aço que liga o quebra-mato ao bagageiro.
Nesse momento, paramos tudo e desci do carro para rir de nossa situação. Naquele momento, toda a tensão acumulada se foi e morremos de rir de nós mesmos diante do absurdo em que nos encontrávamos. A Bnad parecia ter sido colhida em meio a um gigantesco jogo de pega-vareta e nós estávamos emaranhados entre galhos, cintas e cabos.
Como nenhuma comédia é completa sem um novo e surpreendente fator, nesse exato momento, encosta um jipe buzinando estressadíssimo:

- Rápido, rápido!!!! Estamos atrasados - gritavam!

Rarara! Era de chorar de rir! Como não houvesse outro jeito, tiveram que nos ajudar a remover as árvores e esperar a conclusão da guinchada da Band de volta para a trilha, pois ela ainda estava atravessada, sem jeito de ninguém passar.
Superamos a subida com incrível facilidade dessa vez, e demos passagem ao competidor na primeira oportunidade. Paramos para relaxar por um instante, revimos o acontecido e decidimos continuar planilhando, sem nos preocupar com o tempo, que já agora contava 53 minutos de atraso.

Depois do incidente, que por muito pouco não vira um Acidente, seguimos navegando agora bastante relaxados.
Alguns competidores da Turismo ainda passaram por nós, muit atrasados e muito perdidos. Naturalmente nós continuamos seguindo no nosso rítmo, sem se preocupar mais com médias.

Vai daí, ao aproximar-se de um atoleiro, a fila. Vários carros parados, descemos para ver o que havia. Um CJ branco estava lá, fazendo o sabia fazer de melhor, ou seja, quebrado... :-)

E não era ninguém menos do que o Fraldinha, ex-piloto do Maurício, velho conhecido meu, também, quando a Band Assassina livrou-os de uma erosão onde tinham caído, bem no meio de um Raid da Cantareira. Nessa ocasião, eles chegaram em 3o lugar, se não me engano, e nós em 5o.

Bom, o Maurício debruçou-se capô adentro enquanto os demais competidores se aventuravam pelo atoleiro ou optavam pelo aborto. Uma L200 tentou passar e chifrou espetacularmente ao tentar sair, o que deu a dimensão exata da profundidade do atoleiro e do tamanho do degrau na sua saída.

Mais uma vez estávamos soltos à nossa própria sorte. Nem sinal de apoio. Ninguém da organização para tirar que encalhasse. Fiquei imaginando o que teria acontecido ali se o raid não tivesse sido o fracasso que foi. Dos 22 jipes que largaram, quase metade ficou pela primeira parte, não só devido à falta de apoio generalizada, como também devido às altas médias, que aumentam significativamente o índice de quebras.
Não fosse isso, e teríamos uma enorme fila para superar aquele atoleiro. Daí já viu, né? Gente estressada, brigas, discussões e ninguém para ajudar ninguém depois de superado o obstáculo...
Ouviríamos depois de pessoas da organização que raid era isso aí, "era cada um por si"
Fico eu pensando por que mesmo é que eu paguei R$ 100,00 por um raid que não tinha nada mais a oferecer do que tantos outros onde a inscrição não passa de R$ 60,00. Com direito à apoio decente, almoço incluído e respeito da organização.
Pelo visto, contribuí para a próxima participação do Arilo nos Sertões...Legal :-(

Bom, alguém conseguiu ajudar a L200, mas qdo uma Band ficou na mesma situação, ninguém conseguiu tirá-la de lá. Era mesmo um trabalho para a KF.
Demos a volta pelo aborto, prendemos a cinta, mas nem dando trancos significativos conseguimos faze-la escalar o degrau quase da altura de seu pneu. Rezamos para o Sto. Biselli. Esse não negou fogo e rapidamente, ou melhor dizendo, lentamente a Band foi surgindo do lado seco do mundo.
Seguimos nesse passo do anda-um-pouquinho-pára-um-pouquinho-230-km...Sempre com o CJ falhando tossindo ou apresentando alguma avaria.
Na última vez ele teve um pneu destalonado e o acelerador grudado sem voltar.
Dessa vez apareceu o pessoa da organização(?) para dizer que deveríamos ter tirado o CJ da frente para os outros passarem!
Ah, meu velho, daí o tempo esquentou! Era um bando de barbados com chave de rodas e high-Lift na mão, batendo boca cada vez mais acaloradamente, que achei q a coisa ali ia ficar feia!

Calma reestabelecida, contentamo-nos em dar um banho de lama nos caras e fomos embora comboiando o Fraldinha.
Andamos um pouco e logo a frente, tudo parado de novo:

- Mau, corre lá que teu amigo pifou de novo...- disse eu desanimado.

Pouco tempo depois volta o Maurício esbaforido:
- Que Fraldinha, que nada. É o Parmesão que está sendo rebocado!

É claro que fui la ver o que havia. O Engesão tinha tido um princípio de incêndio e agora estava morto como a economia da Argentina. Um valente CJ vinha trazendo-lhe arrastado. Desnecessário dizer que não era ninguém da organização.
O Engesão tinha levado uma pancada por baixo, rompendo seu escapamento, que por sua vez rasgou o tanque de combustível. Num estouro do motor, o fogo começou. Provavelmente o Parmesão dará mais detalhes em seu site.

Bom, uma enorme subida nos aguardava e o CJ mais um Troller não deram conta de levá-lo para cima. A Band foi requisitada, mas nem ela sozinha conseguiu. Tivemos mais uma vez que apelar para o velho Santo. E lá fomos nós morro acima a estonteantes 5 Km/dia.

Seguimos nesse ritmo planilhando e nada de apoio ou de alguém para nos indicar qual a melhor forma de voltar para o asfalto, já que, quase 18h00, ninguém mais pensava em prova. Ao fim da Trilha da Roberta Close, atingimos a civilização e pudemos nos achar. Ou quase, já que um erro de navegação acabou nos levando para o lado oposto.

O interessante é que, ao chegarmos a uma cidadesinha qualquer, passou por nós o Poka, conhecido jipeiro e mecânico da região, que fazia parte da organização(?). Ao ouvir nossas reclamações, ele ainda disse que estava tudo certo, que ele estava lá para resgatar-nos. Que não chegaram antes por causa de uma Band tombada! Opa!!! Band tombada? Quer dizer a minha? Qualé, Poka?
Daí o discurso já era outro: "estou aqui sozinho, olha meu carro..." De fato era um Niva de dar dó, trazendo a reboque um CJ. Mas e nós com isso? Cadê o resto da organização(?) ? Para onde tinham ido os R$ 100,00 que pagamos para participar? Já sei, já sei, o Arilo vai correr os Sertões de novo...

Bom, largamos o Poka por lá pois não estava com minha chave de rodas à mão.
(nada contra ele, mas já que fazia parte da organização(?) e ainda tentava defende-la...)

Chegamos à Castelo Branco às 9h30 da noite, deixamos o Parmesão lá esperando o guincho e fomos levar a Andréa para pegar seu carro, que havia ficado lá no local do Festival. Chegamos lá por volta de 22h00 e o espetáculo era deprimente: Tudo escuro, umas poucas almas por lá e o resultado melancólico do raid: Na categoria Graduados, o Parmesão ficou em 6o e nós em 8o. Apenas 8 jipes estavam inscritos.
Na Turismo, por conta do bate-boca no lamaçal, todos os PCs depois do almoço foram cancelados, mas não tenho idéia da classificação de ninguém.

Então foi isso.

Da minha participação, não tiro minha culpa pelo quase capotamento. Foi um pouco de falta de braço, navalhada mesmo. E um pouco também por ser o primeiro do comboio em uma trilha bastante molhada.
Mas a falta de organização é imperdoável, especialmente quando se paga tão mais caro pela inscrição por um raid que oferece tão menos.
Eu sei que as despesas para correr os Sertões não são poucas, ainda mais correndo com aquela COISA coreana...Mas o que que eu tenho com isso? :-)

Abraços arilovais,

Decio Pedroso
JipeNet/SP - Band 94 Kátia Flávia

Vejam abaixo a reportagem deste Raid, na revista 4x4 & Cia.:
 
Raid_Festival01-91.JPG (33197 bytes)  Raid_Festival01-92.JPG (26978 bytes)